Um
azul celeste deixando escapar pequenas nuvens brancas é o cenário próprio ao
hino de amor à vida que as torres multicoloridas da Catedral de S. Basílio,
como que flutuando sobre a Praça Vermelha atiçam a força da fé calibrando uma
certeza - ainda vale a pena confiar na humanidade.
Encantados
com a frase tirada por Lênin de um escrito de Marx - a religião é o ópio do
povo, os bolcheviques, novos donos do poder na Rússia, transformaram a extinção
da fé do povo em política de Estado.
Destruir
igrejas, sinagogas, mesquitas, enfim qualquer espaço onde as pessoas se
reunissem em profissão de fé, passou a ser programa de Governo. Religião, não
mais.
O
ativismo ateísta, armado pela propaganda, tornaria as pessoas mais vulneráveis
ao catecismo do novo credo - a ditadura do proletariado. Assim, a classe
operária por inteiro alcançaria logo o paraíso.
Lênin,
codinome que Vladimir Ilych Ulyanov adotou em homenagem ao Rio Lena, na
Sibéria, onde cumpriu pena por dois anos, acusado de conspiração, era fluente
em alemão, inglês, francês. Formado em Direito, interessava-se também por
economia.
Das
teorias de Marx e Engels, Lênin fez um ensopado misturando socialismo com
ingredientes da economia de mercado capitalista achando que daí viria o
capitalismo de Estado. Viveu 53 anos. E seu Governo durou 6 anos.
O
camarada Stálin, que o sucedeu, priorizou não só a perseguição a todas as
religiões como também, ao mesmo tempo, a eliminação todos que ligados ao
camarada Lênin pudessem, de algum modo, atrair rivalidades.
O
camarada Leon Trotsky, possivelmente o mais culto entre os leninistas, correu o
mundo que lhe foi possível, sem lugar onde se esconder da perseguição do
camarada Stálin até ser assassinado a golpes de picareta no jardim da casa onde
morava em seu asilo no México.
Parcerias
na nova fé, irmãos camaradas!
Vendo
ser impossível destruir todos os templos, Stálin pensou em adaptar alguns,
modificando fachadas, para servirem como repartições da burocracia soviética.
No mais, destruir as demais. Nada de templos para a fé religiosa. Era tudo casa
de ópio, teorizava.
Assim,
a Catedral de Cristo Salvador, a segunda igreja mais admirada de Moscou, cuja
construção durou 66 anos, que sobreviveu à invasão destruidora das tropas de
Napoleão em 1812, desabou em 5 de dezembro de l931 sob a implosão ordenada por
Stálin.
No
lugar da Igreja de Cristo Salvador seria erguido o Palácio dos Sovietes, um
colegiado surgido em 1905 no qual representantes do proletariado, incluindo
militares, exerciam os poderes do legislativo e do executivo. Em 1917, Lênin
proclamou - todo o poder aos sovietes. E foi com o apoio deles que Lênin
consolidou o seu poder.
A
Segunda Guerra para a qual Hitler imaginava Stálin neutro atirou os russos aos
campos de batalha em reforço aos Aliados - Inglaterra, Estados Unidos, França,
Brasil e outros, moveu para depois a construção do Palácio dos Sovietes.
Agora,
finda guerra, já não havia dinheiro para a construção do Palácio. No lugar da
Igreja haveria um piscinão. A força da fé do povo fez reerguer com seus
próprios recursos a Catedral de Cristo Salvador, igualzinha ao que sempre foi e
já se vão 200 anos.
O
gênio macabro do camarada Stálin, cujas barbáries, assassinatos de milhares de
dissidentes e de seguidores da fé cristã seriam depois reveladas ao mundo por
Kruschev, insistiu na demolição da Catedral de S. Patrício. Houve reação
inclusive dentro do Kremlim.
A
Catedral de S. Patrício é essa maravilha da arquitetura russa construída sob a
ordens de Ivan, o Terrível, entre 1555 e 1561, que o camarada Stálin insinuou
desafiar.
Edson Vidigal, Advogado, foi
Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
0 comentários:
Postar um comentário