Tenho
por hábito não atender a chamadas telefônicas estranhas aos meus contatos
pessoais. Ou profissionais.
Uma
vez chegando a Sidney, na Austrália, um frio de lascar, quase amanhecendo, foi
abrir-se a porta do avião e o celular irromper escandaloso em algum bolso do
casaco.
Era
alguém cadastrado, um repórter de São Paulo. Confirmei a informação sobre o
interesse do Banco Mundial na nova Lei de Falências em discussão no âmbito das
Cortes judiciais.
Nesta
semana, em manhã de caminhada pela orla litorânea desta Ilha do Amor, saquei do
bolso o celular me indicando um número de 12 dígitos, estranhos para os meus
registros.
Não
atendi. Não se passaram três minutos, o telefone tocou novamente. Pronto para
atender, vi que não era o meu amor. O número agora era outro, também com 12
dígitos.
Logo
abaixo de cada um dos dois números, cada um com 12 dígitos, estava escrito a
procedência da chamada – Rússia. O mínimo bastante para me deixar cabreiro.
Pensei
no blog que nem sempre o atualizo diariamente, mantendo-o assim deserto de
novos registros por dias seguidos. Por enfado ou por falta de novos assuntos.
Há
ocasiões em que há mais acessos ao blog na Europa e Estados Unidos do que no
Brasil. Imagino que sejam patrícios nossos, mas não são tantos os desterrados
que eu conheça.
Parentes?
Conto-os nos dedos de uma mão, até onde sei. Todos pelos colaterais da minha
mãe. Mãe, vocês parecem advindos daquela tribo que perdida no deserto
assumiu-se cigana.
Agora
mesmo soube de uma sobrinha, jornalista, nascida em Barra do Corda, MA, que
depois de trabalhar numa rede de TV, no Rio, foi aprimorar o inglês na Irlanda
católica. Casou-se na Escandinávia. Ficando por lá, já arriou os pneus.
Preciso
apenas de uma hora para completar o percurso de ida e volta entre o ponto zero
e a escultura dos pescadores no fim, ou começo, da litorânea. Em marcha batida.
Mas
agora essas duas chamadas da Rússia me atiçam a curiosidade de antigo repórter
policial nos tempos em que o James Bond era o Sean Connery.
Moscou
Contra 007 foi, em 1963, o segundo filme da série. Daniela Bianchi, atriz
italiana, hoje com 76 anos de idade e 38 de carreira, é a bela agente soviética
que Bond ajuda a fugir da Rússia para, na embaixada de seu País, em Londres,
tentar recuperar uma maquininha de ler códigos.
Bond,
o esperto agente sempre a serviço de Sua Majestade, cai na armadilha da
Spectre, a terrível organização, que armou tudo, usando a louraça russa, para
atraindo-o, executá-lo.
Como
sói acontecer em todo filme com herói e bandido, o bandido sai perdendo e o
herói, no mínimo, escapa.
Na
chamada guerra fria, em que Estados Unidos, de um lado, representando as
democracias e seus capitalismos, alguns ainda selvagens, predadores, diga-se de
passagem, e do outro lado, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas,
lideradas pela Rússia, os lados peleavam querendo, cada um, mostrar à
humanidade indecisa, ou ignorante, que soma a maior parte, as suas vantagens.
A
vitória dos países aliados, incluindo Rússia, na segunda grande guerra,
resultou na divisão da Alemanha, de modo a configurar a divisão do mundo em
dois lados.
Com a
Rússia retornando à sua catedral de promessas de um novo mundo com o comunismo
libertador da miséria e da opressão dos povos, achando-se pronta para vencer,
derrotando os seus antigos aliados contra o nazi-fascismo e a matriz
capitalista encravada nos Estados Unidos, Winston Churchill definiu as novas
fronteiras ideológicas no novo mapa do mundo - Cortina de Ferro.
Foi
preciso construir um muro em Berlim para impedir que os alemães, até então
segregados pelo comunismo, pudessem optar pelo lado que quisessem. A queda do
muro escancarou para o mundo com imprensa livre as fragilidades das promessas
comunistas.
Wladimir
Putin, um então jovem agente secreto da KGB, não chegou a ser em talento e ação
um 007 ao nível de Bond. Mas é ele, nascido sob as graças de Boris Yeltsen, o
lendário dissidente que garantiu com Gorbachev a queda do ancien regime, é ele,
Putin, quem domina a Rússia há 14 anos.
Duas
chamadas da Rússia no meu celular, aqui, em São Luís do Maranhão? Eu, hein?
Edson Vidigal, Advogado, foi
Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
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