
A
politica destes tempos agoniza putrefata. Intenções boas e más se confundem
distorcendo os fatos, incrementando versões.
A
maldade se atiça querendo arrancar sorrisos. Mas tudo se despolui nesse palco
quando desponta desavisada, transpirando alegrias, uma criança.
A
memória dos séculos guarda e nos relembra os momentos enternecedores em que
crianças quebraram a caretice ambiental dos gabinetes ou as hipocrisias das
muitas solenidades politicas.
Concentrado
na leitura de papeis sobre a sua mesa de trabalho no Salão Oval da Casa Branca,
o Presidente Kennedy parece não se incomodar com o que os seus guris John-John
e Caroline aprontam. Festa rara dos fotógrafos.
O
Presidente Johnson, volta e meia, era interrompido por suas duas garotas. Em
seu jeitão de texano de Austin, fazia troça comentando com seus Ministros que
era mais fácil governar a América do que educar aquelas duas.
Governantes
saboreiam as historias que contam sobre os seus rebentos. Getúlio
correspondia-se frequentemente com Alzirinha escrevendo-lhe bilhetes a lápis
num tratamento meio de igual para igual recheado de ternura e respeito.
Num
dia desses, num táxi pela Rua do Catete, no Rio, comentei com o motorista –
você imagina um Presidente governando o Brasil daqui deste quintal? Ele então
me contou ter conhecido o Getúlio. Era criança e ouvindo os adultos chamando-o
de ditador, não deixou por menos.
Toda
manhã bem cedo, o Presidente caminhava pela calçada. O menino de então tinha
sempre um jeito de cruzar com ele para lhe desejar bom dia. “Bom dia,
ditador!”. E o Getúlio, sem perder o ar bonachão, correspondia – “Bom dia, meu
filho!”.
Fosse
algum marmanjo, a graça seria outra.
A
revista O Cruzeiro costumava publicar fotos do João Vicente em calças curtas e
suspensório colado no Jango em reuniões com políticos.
Em
Brasília, a Dilma parecia incorporar a Pietá de Michelângelo quando a Paula,
sua filha, deixava chegar ao Alvorada o Gabriel, o primeiro neto.
Sarney,
então Deputado na Brasília nascente, adorava pedir a Roseana que declamasse
para as visitas os versos com quais ela vencera o concurso para a escolha da
letra do hino da escola.
A
alegria do Palácio Jaburu agora é o Michelzinho com toda a pureza e inocência
dos seus 7 anos de idade.
Nestes
tempos em que a nossa imprensa não tem poupado espaço para expor maldosamente
filhos e filhas de autoridades, incluindo ex-Presidentes da República, o
respeito e o afeto que não podem faltar da parte de nós outros, os
adultos, a toda e qualquer criança, sumiram no noticiário dos últimos dias
sobre a antecipação de herança que o Michel pai fez ao Michel filho.
Com
tintas de escândalo, jornais publicaram – “Michelzinho, 7 anos, tem 2 milhões
em imóveis”. O blog do PT – “Michelzinho, filho caçula de Temer, tem 2
milhões em imóveis. Caçula do Presidente golpista com Marcela Temer é dono de
um conjunto de escritórios no Itaim Bibi, bairro nobre de S. Paulo”.
O que
há de ilegal ou imoral? Nada, absolutamente nada. Michel Temer sempre trabalhou
em toda sua vida, justificando plenamente o patrimônio auferido. Advogado,
Professor de Direito, autor de uma das obras mais vendidas no País sobre
direito constitucional, não cobra por palestras.
Grande
parte do seu patrimônio já havia sido doado, como antecipação de herança
às suas três filhas do primeiro casamento. Tão logo nasceu o Michelzinho, do
casamento com D. Marcela, passou para o nome do garoto, como antecipação
de herança, o conjunto de salas onde foi antes seu escritório de advocacia e
ultimamente escritório politico.
Onde o
absurdo nisso? De forma verdadeiramente engraçada o Piauí Herald, jocosamente
registrou:
“TOYS
R US – Rico e famoso, Michelzinho atraiu a atenção de paparazzi nesta manhã ao
estacionar seu carrinho no Leblon. “O veículo era nada menos que um Hot Wheels
cromado modelo 2016. Ficou 10 minutos parado entre um boneco do Comandos em
Ação e um playmobil”, revelou o fofoqueiro profissional Nelson Rubens. Em
seguida, o caçula do presidente interino foi visto brincando de polícia e
ladrão. Segundo o relato de babás uniformizadas que exigiram anonimato, o
mancebo correu atrás de um pequeno meliante aos gritos de “prendê-lo-ei”.
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