Por
Fernando Atallaia, do site ANB Online
O Maranhão é um estado onde a Cultura é
definitivamente indissociável da forma com a qual os governantes
a viram nas últimas décadas. Aqui quando se lança mão do termo há uma conexão
direta com o Folclore ou a chamada ‘cultura popular’. Essa associação sempre
serviu aos currais eleitorais e às intenções ‘políticas’, de forma que é
impossível não tratar do assunto sem que se evoquem as pretensões que nos
emperraram diante dos demais estados brasileiros.
O governador Flávio Dino(foto) terá que nomear
um Secretário de
Cultura que entenda do Setor em sua diversidade e que não
conceba a Cultura do Estado somente como
Tambor de Crioula e Bumba-Meu-Boi
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A grande maioria de nossos Secretários de Cultura
até hoje obedeceu à lógica do ‘pão e circo’ ou das festividades datadas
(Festejos Juninos e Carnaval) para definir ou mesmo classificar o nosso
conceito de Cultura. Em obediência, é claro, às orientações de seus
governadores. O Maranhão que tem uma das mais vastas bibliografias; uma
tradição literária rica, fecunda e promitente; uma vocação para os Movimentos
Culturais de Juventude e a contínua celebração de artistas em torno de
Festivais de Música caiu no limbo do obscurantismo por anos a fio. Em
contrapartida, hoje nosso estado anuncia uma sólida, consistente e nova
conjuntura.
Para falar na Arte produzida por estas plagas nos
dias atuais, por exemplo, devemos nos remontar, necessariamente, ao amplo
caldeirão de manifestações culturais que nos batem à porta. E aí se incluem os
artistas e agentes das mais variadas formas do Fazer Cultural. Só em São Luís,
para se ter ideia, é preponderante e notável a presença de uma gama de artistas
que nos apresentam grande diversidade. O Maranhão de hoje não é somente o estado
do Bumba-Meu-Boi e do Tambor de Crioula. Temos grupos de Samba, bandas de
Reggae, Rock, conjuntos de Jazz, Blues, Instrumental, Música Erudita e
Clássica; uma cena consolidada da Poesia em todos os cantos e bairros da
capital, sem falar nos municípios maranhenses que, a seu modo, também
apresentam suas ‘armas’.
Mas apesar das conjecturas referidas, ainda não
despertamos para a riqueza de nossa portentosa tradição. Ainda ovacionamos os
artistas de outros estados em detrimento dos nossos; valorizamos as peças
teatrais do eixo Rio-São Paulo em detrimento de nosso Teatro e, por incrível
que pareça, legitimamos todo investimento (patrocínio e atenção) na Cultura de
nossos vizinhos com a escancarada aprovação de nossos gestores. Sempre foi de
conhecimento de todos que a SECMA e a Func, órgãos públicos responsáveis por
nossa gestão no Setor nunca mediram esforços para fazer às vezes de bons
hospedeiros a baianos, cariocas e paulistas.
Essa inversão precisa acabar. Estamos às vésperas e
prestes a iniciar um novo Governo que prega a mudança estrutural em todas as
áreas da Gestão Pública. Temos problemas igualmente estruturais em nossa Área.
O artista/agente cultural do Maranhão está no fundo do poço. Não recebe apoio
para viabilidade de sua Obra. Por falta de meios e investimentos permanentes,
não trabalha conjuntamente com outros profissionais afins na propagação e
difusão dos valores culturais. Nosso banco de dados e nosso Patrimônio Cultural
Material e Imaterial estão abandonados à própria sorte. Nossa identidade
cultural vulnerável, fragmentada, confinada ao quase desaparecimento.
Em breve, será anunciado o Secretário de Cultura
para os próximos quatro anos. Ele terá a obrigação de entender e compreender
profundamente todas as nuances, reivindicações, peculiaridades, demandas
e lutas de nossos artistas em suas formas de trabalho e expressão. Terá também
que organogramar um sólido programa e plano de ação para banir de vez os
conceitos delimitativos que beneficiam somente a uma, duas formas de fazer Cultura.
Terá que entender, por obrigação da função, sobre as questões e problemas
culturais que se arrolam às nossas Artes Plásticas, Escultura, Cinema,
Arquitetura, Artesanato, Literatura e Crítica Literária. Apresentar somente a
Programação Junina e os Carnavais é uma prova de que nada mudou e de que o
próximo governo poderá repetir o antecessor.
Não é por aí.
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