Posicionamento
de Marina Silva no segundo turno da eleição presidencial
Ontem, em Recife, o candidato Aécio Neves
apresentou o documento “Juntos pela Democracia, pela Inclusão Social e pelo
Desenvolvimento Sustentável”.
Quero, de início, deixar claro que entendo esse
documento como uma carta compromisso com os brasileiros, com a nação.
Rejeito qualquer interpretação de que seja dirigida
a mim, em busca de apoio.
Seria um amesquinhamento dos propósitos
manifestados por Aécio imaginar que eles se dirigem a uma pessoa e não
aos cidadãos e cidadãs brasileiros.
E seria um equívoco absoluto e uma ofensa imaginar
que me tomo por detentora de poderes que são do povo ou que poderia vir a ser
individualmente destinatária de promessas ou compromissos.
Os compromissos explicitados e assinados por Aécio
tem como única destinatária a nação e a ela deve ser dada satisfação sobre seu
cumprimento.
E é apenas nessa condição que os avaliei para
orientar minha posição neste segundo turno das eleições presidenciais.
Estamos vivendo nestas eleições uma experiência
intensa dos desafios da política.
Para mim eles começaram há um ano, quando fiz com
Eduardo Campos a aliança que nos trouxe até aqui.
Pela primeira vez, a coligação de partidos se dava
exclusivamente por meio de um programa, colocando as soluções para o país acima
dos interesses específicos de cada um.
Em curto espaço de tempo, e sofrendo os ataques
destrutivos de uma política patrimonialista, atrasada e movida por projetos de
poder pelo poder, mantivemos nosso rumo, amadurecemos, fizemos a nova política
na prática.
Os partidos de nossa aliança tomaram suas decisões
e as anunciaram.
Hoje estou diante de minha decisão como cidadã e
como parte do debate que está estabelecido na sociedade brasileira.
Me posicionarei.
Prefiro ser criticada lutando por aquilo que
acredito ser o melhor para o Brasil, do que me tornar prisioneira do
labirinto da defesa do meu interesse próprio, onde todos os caminhos e portas
que percorresse e passasse, só me levariam ao abismo de meus interesses
pessoais.
A política para mim não pode ser apenas, como diz
Bauman, a arte de prometer as mesmas coisas.
Parodiando-o, eu digo que não pode ser a arte de
fazer as mesmas coisas.
Ou seja, as velhas alianças pragmáticas,
desqualificadas, sem o suporte de um programa a partir do qual dialogar com a
nação.
Vejo no documento assinado por Aécio mais um elo no
encadeamento de momentos históricos que fizeram bem ao Brasil e construíram a
plataforma sobre a qual nos erguemos nas últimas décadas.
Ao final da presidência de Fernando Henrique
Cardoso, a sociedade brasileira demonstrou que queria a alternância de poder,
mas não a perda da estabilidade econômica.
E isso foi inequivocamente acatado pelo então
candidato da oposição, Lula, num reconhecimento do mérito de seu antecessor
e de que precisaria dessas conquistas para levar adiante o seu projeto de
governo.
Agora, novamente, temos um momento em que a
alternância de poder fará bem ao Brasil, e o que precisa ser reafirmado é o
caminho dos avanços sociais, mas com gestão competente do Estado e com
estabilidade econômica, agora abalada com a volta da inflação e a insegurança
trazida pelo desmantelamento de importantes instituições públicas.
Aécio retoma o fio da meada virtuoso e corretamente
manifesta-se na forma de um compromisso forte, a exemplo de Lula em 2002, que
assumiu compromissos com a manutenção do Plano Real, abrindo diálogo com os
setores produtivos.
Doze anos depois, temos um passo adiante, uma
segunda carta aos brasileiros, intitulada: “Juntos pela democracia, a inclusão
social e o desenvolvimento sustentável”.
Destaco os compromissos que me parecem cruciais na
carta de Aécio:
*O respeito aos valores democráticos, a ampliação
dos espaços de exercício da democracia e o resgate das instituições de Estado.
*A valorização da diversidade sociocultural
brasileira e o combate a toda forma de discriminação.
*A reforma política, a começar pelo fim da
reeleição para cargos executivos, que tem sido fonte de corrupção e mau uso das
instituições de Estado.
*Sermos capazes de entender que, no mundo atual, a
ampliação da participação popular no processo deliberativo, através da
utilização das redes sociais, de conselhos e das audiências públicas sobre
temas importantes, não se choca com os princípios da democracia representativa,
que têm que ser preservados.
*Compromissos sociais avançados com a Educação, a
Saúde, a Reforma Agrária.
*Prevenção frente a vulnerabilidade da juventude,
rejeitando a prevalência da ótica da punição.
*Lei para o Bolsa Família, transformando-o em
programa de Estado
*Compromissos socioambientais de desmatamento zero,
políticas corretas de Unidades de Conservação, trato adequado da questão
energética, com diversificação de fontes e geração distribuída.
*Inédita determinação de preparar o país para
enfrentar as mudanças climáticas e fazer a transição para uma economia de baixo
carbono, assumindo protagonismo global nessa área.
*Manutenção das conquistas e compromisso de
assegurar os direitos indígenas, de comunidades quilombolas e outras populações
tradicionais. Manutenção da prerrogativa do Poder Executivo na demarcação de
Terras indígenas
*Compromissos com as bases constitucionais da
federação, fortalecendo estados e municípios e colocando o desenvolvimento
regional como eixo central da discussão do Pacto Federativo.
Finalmente, destaco e apoio o apelo à união do Brasil
e à busca de consenso para construir uma sociedade mais justa, democrática,
decente e sustentável.
Entendo que os compromissos assumidos por Aécio são
a base sobre a qual o pais pode dialogar de maneira saudável sobre seu presente
e seu futuro.
É preciso, e faço um apelo enfático nesse sentido,
que saiamos do território da política destrutiva para conseguir ver com clareza
os temas estratégicos para o desenvolvimento do país e com tranqüilidade para
debatê-los tendo como horizonte o bem comum.
Não podemos mais continuar apostando no ódio, na
calúnia e na desconstrução de pessoas e propostas apenas pela disputa de poder
que dividem o Brasil.
O preço a pagar por isso é muito caro: é a
estagnação do Brasil, com a retirada da ética das relações políticas.
É a substituição da diversidade pelo estigma, é a
substituição da identidade nacional pela identidade partidária raivosa e
vingativa.
É ferir de morte a democracia.
Chegou o momento de interromper esse caminho
suicida e apostar, mais uma vez, na alternância de poder sob a batuta da
sociedade, dos interesses do pais e do bem comum.
É com esse sentimento que, tendo em vista os
compromissos assumidos por Aécio Neves, declaro meu voto e meu apoio
neste segundo turno.
Votarei em Aécio e o apoiarei, votando nesses
compromissos, dando um crédito de confiança à sinceridade de propósitos
do candidato e de seu partido e, principalmente, entregando à sociedade
brasileira a tarefa de exigir que sejam cumpridos.
Faço esta declaração como cidadã brasileira independente
que continuará livre e coerentemente, suas lutas e batalhas no caminho que
escolheu.
Não estou com isso fazendo nenhum acordo ou aliança
para governar.
O que me move é minha consciência e assumo a
responsabilidade pelas minhas escolhas.
Marina Silva
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