É
ilusório imaginar que doadores de campanhas eleitorais, notadamente os mais
endinheirados, se interessam por compromissos programáticos.
Querem
saber, primeiro, das chances reais de eleição do candidato e suas ligações e
acessos diretos aos futuros ocupantes do poder.
Ninguém
quer investir no aperfeiçoamento das instituições democráticas.
Tais
patriotas, exceções à regra, querem saber é com quem poderão contar quando
perceberem os seus interesses ameaçados e precisarem de quem os acompanhe pelo
caminho único que sabem – o das exonerações tributárias ou dos empréstimos a
juros de quase nada dos bancos oficiais.
Está
passando da hora reler muitos dos contratos de concessões e de permissões pelos
quais grandes grupos se apropriaram do patrimônio publico e quanto aos
compromissos contratados nada ou quase nada fizeram até aqui. Olhai os trilhos
dos trens...
O
espirito público hoje tão ausente da maioria dos políticos parece guardar
equidistância também das mentes empresariais.
Exceções
à parte fazem doações sem nenhum apreço pelo que os candidatos contemplados
possam representar em melhoria da qualidade da politica no Brasil. Muitos
chegam a destinar vultosas quantias em valores iguais a candidaturas rivais
entre si.
No
sistema partidário que não permite a formação de líderes porque dominados por
camarilhas à sombra da Constituição da República e das leis do País e no
financiamento de campanhas estão os imbróglios mais impeditivos à construção
democrática.
Como
sair dessas? Pela iniciativa popular enfiando goela abaixo desse Congresso as
mudanças que, implodindo essas estruturas vigentes e tão viciadas, possam
resgatar para o Brasil a legitimidade da representação popular.
Poucos
empresários no Brasil cederam às imposições do espirito público dedicando seu
tempo à política na crença de que poderiam doar ao País proveitosa
contribuição.
Lembro
dois nordestinos – Carlos Jereissati, Senador pelo Ceará e José Ermírio de
Moraes, Senador por Pernambuco.
Jereissati
foi o grande parceiro de Getúlio na afirmação do trabalhismo e de apoio dos
empresários à gestão de Jango no Ministério do Trabalho.
Ermírio
não só bancou a eleição de Arraes para Governador como, elegendo-se senador
pelo PTB do qual seria depois o Presidente nacional, foi Ministro da
Agricultura de Jango, inscrevendo no seu legado o Estatuto do Trabalhador
Rural.
Quando,
em 1986, o Governo de S. Paulo periclitava entre Paulo Maluf e Orestes Quércia,
o PTB lançou o Tonhão, empresário bem sucedido, que após cursar na empresa do
seu pai.
Com
sua verve franca, sem rodeios e seu jeitão desengonçado, Tonhão não queria
saber de politicalha nem de politiquice e foi anunciando logo no primeiro dia
de campanha – médico vai ter que bater ponto, funcionário público tem que
melhorar a produtividade, empresário tem que vender com nota fiscal, ninguém
vai atender mal ao povo.
Nas
pesquisas qualitativas Tonhão fazia o maior sucesso. Nos sindicatos e empresas,
o Quércia chegava e dizia – ele vai acabar com vocês, perseguir médicos e
professores, ele é contra funcionário público.
Pediam-lhe
Secretarias de Estado inteiras de porteiras fechadas, como se diz hoje. Tonhão
pegava de leve e sorrindo – vou sair da minha empresa para deixar você roubar
em meu nome?
Perdeu
as eleições para o Quércia. Nunca mais quis ser candidato. Antes, em 1976,
movido pelo espirito público juntou-se a Gerdau, Mindlin, Setúbal, dentre
outros, num Manifesto reclamando a volta da democracia e mudanças na economia
do País. O regime militar nadava de braçadas.
Sobre
Collor,– um incompetente com sorriso falso. Descobri tarde demais. Dei muito
dinheiro para a campanha dele. Não sei como pude acreditar naquele salafrário.
Sobre
Lula – um despreparado. Jamais votaria em quem diz nunca ter lido um livro.
O
Tonhão da campanha eleitoral foi coisa de marqueteiro. Estou me referindo é a
um grande brasileiro – Antônio Ermírio de Moraes, que morreu em S. Paulo na
noite de domingo, dia 24 de agosto. Em casa, de insuficiência respiratória. Aos
86 anos.
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