
Em muitas cidades ribeirinhas, num tempo
ainda sem rádio e sem luz elétrica, as pessoas de um lugar só podiam ver as
pessoas de outro lugar viajando de balsas pelo rio.
A fé religiosa e a alegria do carnaval não
tinham porque viajarem juntas, forçadas a paradas longas, entre uma margem e a
outra quando não só as arroubas da produção, também porcos e galinhas, às vezes
até jumento, eram embarcados para destinos que consumiam semanas.
Naquelas povoações não faltavam a capela que,
havendo padre, se abria para as grandes celebrações por toda semana santa com
direito a fumaça de alecrim queimando no altar, nem o galpão enfeitado para os
bailes do carnaval. Havendo orquestra, é claro.
Sei bem o quanto essa dependência do raro,
quase incerteza, agravada pela distância, pode ser causa de ansiedades muitas
vezes estressantes.
Em Rock Falls, no Estado norte-americano de
Illinois, na sequencia dos meus estudos sobre voto distrital e financiamento de
campanha, fui acolhido por uma simpática família judia.
No sábado, notei a inquietação. O rabino
contratado prestava serviços também a outras comunidades do circuito e não era
certo àquela altura a que horas, ou se iria à noite, à sinagoga.
A solidão das nossas populações ribeirinhas,
naquele tempo sem rádio e sem noticias das terras civilizadas, parecia
compensar-se em seus acúmulos de esperas.
Embora a cada ano em datas diferentes,
tirando as fases da lua e as enchentes do rio, o carnaval e a semana santa
aconteciam.
Primeiro, o carnaval infestando de pecados as
almas mais inocentes. Depois, a semana santa para o arrependimento, a
meditação, o aprendizado do amor e da compaixão.
O estranho que descia o rio na balsa era um
sacristão levando um recado do padre. Os músicos que iam tocar no carnaval
perderam a viagem. Portanto, não haveria carnaval. Mas a semana santa seria
mantida.
Agora o Financial Time, respeitada publicação
de economia, editada em Londres, ao analisar mais uma vez essa ziquizira, que
se abateu cruelmente sobre os brasileiros, informa que no Brasil nem carnaval
vai haver mais. Tamanha a quebradeira.
Dizem que o Financial Time não gosta da
Dilma. Sabemos por aqui que muito mais da metade da população não gosta da
presidência dela. Vozes da sensatez quase se ajoelhando imploram – renuncia
Dilma.
Dilma não entende que o principal desta crise
tem a ver com a incapacidade dela de liderar o País.
Turrona, não percebe que as revelações das
roubalheiras, apontando a promiscuidade entre as propinas aos agentes do PT e
as doações de grandes empreiteiras contratadas pelo Governo para sua campanha,
enlameiam seu Diploma de Presidente da República, cassando a sua legitimidade.
Até onde sabemos, só não haverá carnaval nas
pequenas cidades cujas Prefeituras não têm mais como bancar a cerveja dos
músicos. Nem o grogue generalizado.
Todo cuidado é pouco. Olha que o japonês da
Federal vai estar de plantão no carnaval.
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