
“Tenho
respeito por tudo que foi adotado nas gestões anteriores, mas evidentemente vou
imprimir a minha ideologia na adoção dessas medidas”, afirmou, depois de sessão
no tribunal em que foi eleito em votação simbólica como próximo presidente da
corte.
“De modo
que não quero antecipar ainda o que vou fazer, mas acho que tem de haver um
mecanismo de obstrução a “fake news” para que elas não sejam capazes de influir
no resultado da eleição”, disse o ministro. O assunto foi debatido pela manhã
em seminário no TSE.
O
tribunal está organizando um grupo para discutir como evitar a proliferação de
“fake news” no próximo ano a fim de reduzir potencial impacto nos resultados
das urnas. Duas campanhas presidenciais em 2016 –Donald Trump, nos Estados
Unidos, e Emmanuelle Macron, na França–, foram bombardeadas com notícias
falsas.
Para
Fux, as “fake news” “efetivamente podem influenciar negativamente numa
candidatura legítima”.
Ele
assume o TSE em 6 de fevereiro e permanece no cargo até agosto, quando a
ministra Rosa Weber vira presidente. Tradicionalmente um dos três ministros do
STF é o presidente do TSE, e a rotatividade segue a antiguidade deles na corte.
SEGURANÇA NACIONAL
Murilo
de Aragão, da Arko Advice, disse que os serviços para alavancar notícia falsa
na internet são baratos, a partir de US$ 2 mil.
“O
custo-benefício de destruição da verdade é muito barato”, afirmou.
Ele
destacou que o assunto é tratado como tema de segurança nacional em alguns
países da Europa.
Aragão
disse ainda que o Brasil pode implementar barreiras que dificultem essa proliferação,
como fazer mudanças legislativas. As empresas privadas, acrescentou, devem
fazer investimentos e desenvolver tecnologias nesse setor.
Ele
comparou o problema das “fake news” para o jornalismo com a questão de fraude
eletrônicos dos bancos e lembrou que as instituições financeiras criaram
centros tecnológicos dedicados ao tema.
DESCONFIAR
Cristina
Tardáguila, diretora da Agência Lupa, especializada em checagem de fatos,
destacou que o Brasil tem atualmente apenas três agências independentes de
checagem de fatos (“fast checking”), enquanto os Estados Unidos contava com 40
no ano passado.
Ela
listou algumas medidas que podem ajudar a reduzir a proliferação de notícias
falsas na internet, como desconfiar de informação sem fonte identificada e
duvidar de frases de efeito ditas por políticos, como “isto é certamente
consequência daquilo” ou “é a maior da história”.
Dizer
que a crise é “a maior da história” exige uma explicação que falta, disse
Cristina, como explicar desde quando essa é a pior crise e quais os indicadores
que mostram isso.
“É
indispensável desconfiar. Quem é o autor da mensagem? É um blog desconhecido ou
site confiável?”, questionou.
O
eleitor deve ainda ficar atento ao endereço eletrônico dos sites (URL) para ter
certeza de que está navegando em um veículo conhecido ou em um site que imita
logotipo e formato da página para passar credibilidade, disse ela.
Cristina
citou o caso de Fabiane Maria de Jesus, 33, linchada por moradores no Guarujá
após ser confundida com uma sequestradora que nunca agiu no município. O que se
soube após a morte de Fabiane é que tudo não passava de um boato. Um retrato
falado feito em 2012 pela polícia do Rio foi divulgado em uma página na
internet voltada à população de Guarujá e a falsa informação levou pânico aos
moradores.
“Informação
falsa mata de forma agressiva, como no caso da Fabiene Jesus, ou de forma
lenta, como no caso de uma eleição presidencial”, disse a diretora.
Além
disso, o eleitor deve ter cuidado com números divulgados pelos candidatos,
sejam dados percentuais ou números absolutos, como, por exemplo, sobre o
crescimento da violência em uma determinada área, acrescentou.
“Os
políticos tendem a memorizar um dado e não atualizá-lo”, afirmou Cristina.
Segundo ela, o eleitor deve se basear em comparações para analisar aquele
número dentro de um contexto, como a taxa por 100 mil habitantes, por exemplo.
Ela
também ressaltou que, quando o cidadão desconfiar da idoneidade de uma noticia,
deve verificar se ela foi reproduzida em outro local: “É difícil que a sua tia
saiba mais sobre a greve da PM no Rio ou do que a queda do avião da Chapecoense
do que todos os outros jornais”, exemplificou.
Felipe
Recondo, sócio do portal Jota, especializado em notícias do Judiciário, disse
que a velocidade da proliferação de uma notícia falsa pode provocar estragos
por alcançar muita gente.
“Em
dois dias de notícia falsa correndo no WhatsApp, sabe-se lá quantas milhões de
pessoas podem ser atingidas”, afirmou.
MÍDIA TRADICIONAL
Os
palestrantes destacaram a importância que a mídia tradicional vai ter na
eleição de 2018 no combate de notícias falsas.
“O bom
jornalismo pode e vai contribuir, independentemente de ser [especializado em]
checador. Para isso, é preciso uma apuração rigorosa dos fatos”, disse Recondo.
Para
Thiago Tavares, fundador da Safernet e conselheiro do CGI.br, “contra ‘fake
news’ a melhor solução é jornalismo de qualidade”.
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