Quando a sociedade
se vê ameaçada por prenúncios de desorganização do Estado, as instituições, por
seus agentes, em muitas ocasiões como esta que vivemos se excitam em espasmos
de arrogância ou de indiferença. Ou em ensaios de autoritarismo.
Quem não sabe como
lidar com essas coisas e já se acha no salve-se quem puder, farinha pouca meu
pirão primeiro, estufa o peito e pigarreia todo dono ou dona da autoridade que
já não mais lhe resolve, mas que precisa ostentar.
Aí a compaixão é
tangenciada junto com a cidadania. As leis do direito se desgarram da moral e
da ética. O processo civilizatório não estanca, mas decai. A interpretação das
normas só conhece a conclusão ignóbil – é até certo que o fato não se reveste
de moral, mas o que fazer se não é legal? Velhos chavões a serviço do jeitinho
brasileiro.
E assim as leis do
direito, editadas sob os pressupostos morais e éticos, vão sendo desgarradas
dos bons costumes que as inspiraram e servindo à facilidade de julgamentos que
dispensam da inteligência humana o compromisso com a paz social, pois com
injustiças, com maus exemplos e com impunidades não há sociedade que se segure
organizada.
A justiça não pode
ser aquela temeridade. Há que ser preservada como a cidadela em que todos
possam depositar confiadamente as suas esperanças. Sobre ela não pode pairar a
mínima suspeita de desconfiança. É operada por seres humanos e porque somos
todos humanos nos resumimos a uma única meta – a perfeição. Se não a alcançamos
conclusivamente, é nosso dever seguir perseguindo. Só assim nos aprimoramos
como criaturas de Deus.
Se nos descuidamos
podemos parecer que somos maus. Mas não basta parecer. Temos que acreditar na
força do bem, praticar o bem do qual somos aliados porque só com atitudes
firmes das pessoas de bem é possível estancar a enxurrada do mal cujos
operadores são incansáveis.
Ora, quem iria
imaginar que de um simples posto de lava jato se tiraria a ponta do enorme
novelo dessa novela quase interminável? Gangues com imensa capilaridade pelo
país a furtarem fortunas dos cofres públicos e a repassarem propinas
milionárias a políticos, a candidatos e a partidos?
E os que embolsaram
as propinas comprando eleições e a se investirem em mandatos sem legitimidade
popular nenhuma se entregando ao desserviço à democracia. Não sabem e nem
querem saber o sacrifício que deu e o trabalho que ainda está dando
restabelecer no Brasil a plenitude democrática.
Os milicos do golpe
militar de 64 acharam que cassando, exilando, enfim, deletando toda a geração
dos políticos de então – gerações formadas sob valores firmes brotados da
tradição secular, tradição judaico-cristã, acharam aquelas pessoas que banindo
o que ainda tínhamos de melhor, ensejariam o surgimento de novas gerações de
políticos dotados de mais espirito publico e imantados de firme patriotismo.
Agora, é só
olharmos os partidos da chamada primeira linha e os seus quadros, raríssimas
exceções à parte. Quanto às linhas restantes, não há falar-se.
Toda corrupção com
o dinheiro publico no que temos de mais publico e notório brotou das
maquinações dessa gente. Pequena parte já está na cadeia. O restante ainda
estrebucha aqui fora achando que pode escapulir.
Não podemos nos
contentar com uma simples troca de Governo. O País está desarranjado, a
sociedade perplexa, a economia em queda se aliando ao caos, o verde das
esperanças quase murchando sob esse causticante sol de deserto de políticos
sérios e de ideias respeitáveis conquanto cabíveis nesta imensa moldura deste
momento.
Cuidado com o
andor, gente. Todos os santos desta procissão têm, como nós outros, os pés de
barro.
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