
Como em brilhante
momento raciocinou aquele grande pensador baiano, tudo na vida se entrelaça com
o antes, com o durante e com o depois. É durante o depois que começa o fim.
É possível prever
quando alguém vai nascer. Mas nunca se saberá o instante exato em que se irá
morrer.
Tocar a vida tem
para cada um de nós maneiras diversas, mas no fundo, no fundo, se resume a um
mesmo resultado - sobreviver querendo um dia, quem sabe, que a felicidade
bata à nossa porta.
Sabias que tramita
no Congresso uma proposta de emenda constitucional mandando inserir a
felicidade entre os objetivos da República para o Povo em geral? Sim, ela
mesma, a felicidade!
Dignidade da
pessoa humana e prevalência dos direitos humanos, que já constam entre as
obrigações republicanas, não teria parentesco algum com a felicidade sob a
garantia constitucional.
Não se sabe ainda
é se depois de inserida como obrigação do Estado para com o Povo em geral ela,
cláusula da felicidade será autoaplicável ou se dependerá de regulamentações
especiais através de uma lei complementar ou de decretos governamentais,
instruções normativas, portarias ou de um mandado de injunção no Supremo.
Não é ainda do
conhecimento de todos se o Governo da República nomeará um Conselho de Jovens
ou de Anciãos, ou seguindo o melhor exemplo do nosso recém - libertado
Maranhão, um colegiado misto com representantes de todas as cotas atualmente
reconhecidas e admissíveis, contanto que bem remunerados, para os efeitos do
cumprimento da nova ordem constitucional.
Eu, e
possivelmente também o Temer, nada sabíamos sobre essa emenda no Congresso do
nosso Brasil quando, outro dia, em Buenos Aires, encontrei um livro, imaginas,
com este título – “La felicidad como elección, la dicha posible más Allá de
las falsas ilusiones”. O autor é Sergio Sinay, um mui festejado
psicológico argentino.
O livro, a meu
ver, não ajuda muito na ideia de se chegar ao estado de felicidade por
imposição constitucional e, talvez, quem sabe, como cláusula pétrea da nossa
chamada Carta Maior.
Mas o que vem
mesmo a ser um estado de felicidade? Ganhar uma eleição à custa de campanha
orientada por tramoias e mentiras e financiada por falsas doações, na verdade
mesmo, oriundas das propinas e dos dinheiros públicos confiscados? Ou festejar
a lista do Janot só porque o nome não está lá? Ou deliciar-se com a
subserviência ao redor que acha que agrada quando troca o vocativo “dente” por
“denta”?
A proposta do “La
Felicidad como elección...”, ao contrário do que se imagina ao se
deparar num relance com o titulo é uma contundente denúncia contra a
manipulação da idéia de felicidade para garantia de lucros fáceis com o
dinheiro fácil ou para manter o poder político sob o controle dos mesmos.
A condição humana,
dizem os marqueteiros das campanhas eleitorais, se inebria fácil com as
miríades. Nem desconfia das mentiras muitas das quais até sinceras.
Daí que prometer a
felicidade como direito de todos na Constituição da República pode resultar em
algo balsâmico a afagar as esperanças de quem à beira do desespero vai perdendo
a noção das certezas e das forças na vontade para resistir e lutar.
Quem, afinal,
erguerá a voz ou o dedo na Câmara dos Deputados ou no Senado da República para
opor-se a essa bem aventurada PEC da Felicidade?
Mas quem, entre
nós, brasileiros, definirá a felicidade? Os juristas, os tecnocratas ou os
poetas?
Vou preferir a
definição dos poetas. Esta do Vinicius, por exemplo, na voz e violão de João
Gilberto – a felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar
/ voa tão leve e tem a vida breve / precisa que haja vento sem parar...
Vamos votar gente,
vamos votar! Toca Renan, atiça Cunha.
Ou talvez já nem
mais precise.
0 comentários:
Postar um comentário