Minha Figura

O meu nascimento: significâncias outras e (res)significâncias do tempo relacionadas a esse fato

25.7.23

Por Francinaldo de Jesus Morais (MEPOR FRANCINALDO DE JESUS MORAIS (Me. em História do Brasil)

Sou o terceiro filho de Florise Morais Silva (1942-1986), nascido na cidade de Caxias-MA, no mês de julho, do ano de 1964, na Rua do Angelim, 177, bairro Cangalheiro. O Brasil vivia a ditadura civil-militar que se iniciava com o governo do cearense Humberto de Alencar Castelo Branco (abril de 1964 a outubro de 1965).

Meu pai não foi declarado na minha certidão de nascimento e sua ausência declarada na minha vida sempre foi uma presença muito forte e marcante. Esta ausência paterna foi compensada por duas maravilhosas presenças maternas, mas orientou minha escolhas quanto a que tipo de homem-adulto me tornaria. 

Não dei trabalho para vir ao mundo, por parto natural, partejado por Joaninha Enfermeira, minha “mãe” e de mais duas ou três centenas de meninos e meninas do bairro Cangalheiro e adjacências. Mãe Joaninha dizia que as parições da Florzinha não precisavam “puxação”.

Considero-me o que se pode chamar uma excepcionalidade cultural: filho da Mãe Florise, “pegado” pela “Mãe” Joana e adotado/criado pela “Mãe” Rosa.

Até os meus 18 ou 20 anos de idade todas estas informações, quando ditas por minha Mãe Florise, soavam sem sombras de dúvidas menos quanto ao dia e horas do meu nascimento. Na minha certidão lia/leio “dia 24”. Mas naquele tempo este número, “24”, quando pronunciado por mim para meus colegas, era objeto de chacota entre eles. Diziam (ou, pior, ainda, sorriam): __O Naldo é 24!

Não conformado decidi investigar com minhas três Mães a circunstância do meu nascimento. Descobri que na noite de 24 de julho de 1964, minhas Mães Florise e Rosa, que moravam juntas, mais a amiga-vizinha dona Mundoca (Mãe do meu saudoso amigo Élcio) estavam sentadas na calçada da nossa casa na Rua do Angelim, 177. 

Conversavam entretidas, mas percebendo o adiantar do tempo, uma delas perguntou as horas a um transeunte notívago. Este respondeu “11h15”, ou seja, 23h15.  Pouco depois as vizinhas se despediram e entraram nas respectivas residências.

No interior da nossa casa, mobiliada apenas com fogão de barro, bilheira com pote e canecas, cadeira com tamboretes, lamparinas e redes, pouco tempo depois da conversa na calçada, minha Mãe Florise se queixou de “dores de parir” à minha Mãe Rosa: __Comadre! É a dor de parir. Chegou a hora!

Minha Mãe Rosa acelerou. Depois de atear fogo e por panela d’água para ferver, saiu apressada em direção à casa da Mãe Joaninha que fica(va) na Rua do Alecrim, 234, paralela à Rua do Angelim, no mesmo bairro. Minha Mãe Joaninha não se demorou muito, mas ao chegar em nossa casa teve que orientar certas providências anteriores/necessárias ao ato de “pegar criança”.

Tudo às mãos negras, delicadas e firmes, inteligentes e sagradas, da minha Mãe Joaninha, a partejação transcorreu rápida e segura: cheguei neste mundo (dasein). O cheiro de incenso foi sentido no quarto e pela casa toda. Meu umbigo foi enterrado ali.

Esta minha história de nascimento eu a ouvi dezenas de vezes e depois de todas insistia com minha Mãe Florise: __A Senhora diz que eu nasci no dia 24, mas o certo é que foi no dia 25. Se às 23h15, do dia 24, na Senhora começaram as dores. Minha Mãe Rosa saiu para chamar minha Mãe Joaninha Parteira que demorou a chegar e providenciar tudo para a parição. Como posso ter nascido no dia 24? O tempo parou desde as 23h15?

Em verdade minhas três saudosas Mães tinham pouca escolaridade e não se interessavam por essas nuances do tempo. Para elas o importante era a criança nascer bem e ser batizada com nome cristão católico. Por isto me chamo Francinaldo de Jesus Morais. Tudo combinado com o Monsenhor Gilberto Barbosa, na Igreja de São Benedito. O “Franci” é em homenagem a São Francisco, Santo da minha simpatia e da devoção da minha Mãe Florise. E “de Jesus”, porque fui dedicado a Jesus Cristo. Apenas o “Morais” vem do meu saudoso avô Raimundo da Hora Morais.

Como historiador faço esta reflexão em minha própria homenagem, vez que hoje, 24.07.2023, é o meu 59º aniversário e, também, com o sentido de sorrir do que considero um falso problema que me embaraçou durante os meus 12 a 20 anos de idade.

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