Por José
Sarney
Acho
que todos nós a quem Deus deu a graça da vida já passamos muitas vezes pelo
anúncio de que o mundo ia acabar. Algumas vezes marcavam data, outras vezes
invocavam as profecias de Nostradamus ou de outros profetas menos votados.
Nostradamus, desde 1555, quando escreveu seu livro Profecias, assusta a
humanidade.
Dizem
que previu a Revolução Francesa, Hitler, a tragédia das Torres Gêmeas de Nova
Iorque e agora, para 2020, como todos os anos, furacões, tempestades,
enchentes, a deposição de Kim Jong Il (Deus queira que se realize), um concurso
de cabelos congelados no Canadá, que está fazendo furor. Mas foi incapaz de
profetizar a mais fácil: o terremoto de Lisboa de l755, que ocorreria 200 anos
depois da publicação do seu livro e que destruiu a bela capital portuguesa, mas
possibilitou a ascensão do Marquês de Pombal.
Estou
como no mosteiro de um ermitão em minha casa de Brasília, minha mulher feliz
porque eu não saio de casa há 20 dias. A TV é só catástrofe, e o medo é o
sentimento que circula em todos os corações. Principalmente no meu, a 20 dias
de completar 90 anos de idade.
Já
passei também por outro anúncio do fim do mundo, na minha querida cidade de São
Bento, este com data marcada, as casas com cruzes riscadas em carvão atrás das
portas para espantar o diabo. Felizmente a data passou e ainda assisti a muitos
anos passarem. Impossível chegar a 3.979, ano final das profecias de
Nostradamus.
Mas,
bom humor à parte, estou profundamente apreensivo. Porque do mundo acabar
sempre temos notícia, mas da humanidade acabar é a primeira vez que presencio.
E este momento não é profecia, tem lógica, porque muitos livros já o aventaram
com a ameaça das doenças desconhecidas, que podem chegar e cortar a história do
homem na face da Terra.
Quem
não acredita em Deus pode aceitar isso. Nós, cristãos, não, porque então seria,
como dizia S. Paulo, “vazia a nossa fé”.
Mas
acredito que o mundo será diferente depois da crise do Coronavírus. O Homem
terá que pensar em modificar esse tipo de sociedade consumista e de sublimação
dos prazeres, para pensar num mundo mais fraterno, mais humano e com maior
justiça social. Foi essa a mensagem do Papa, na bênção Urbi et Orbi, na semana
passada. Quando o vi atravessando a de São Pedro, só e frágil debaixo de chuva,
senti que a solidão a que estamos forçados, afastados inclusive das missas e da
comunhão, é uma travessia para um mundo com o mandamento que Jesus nos deu: o
do amor. Como dizia São Paulo: “O que fica agora é fé, esperança, amor — estas
três coisas. Mas destas a maior é o amor.” (1Co, 13, 13).
A
sociedade de comunicação, virtual e destruidora de valores morais, dará lugar a
uma utopia realizada de caridade, justiça e igualdade.
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