Minha Figura

Fora do governo (não) há solução?

28.10.13
* Por Francinaldo Morais

O general Golbery do Couto e Silva (1911-1987) morreu dizendo que nunca pronunciou a frase que inspirou o título deste texto. Jornalistas atuantes no período em que o “bruxo” orientava o governo, ao contrário, afirmam ser ele o autor da aludida frase. Embora para mim seja importante identificar a autoria das ideias que utilizo para inspirar minhas reflexões, neste caso vou mitigar esta orientação metodológica. Mais que  identificar o autor e dar-lhe os devidos créditos, privilegio aqui os sentidos práticos da enunciação, tendo em vista verificá-los em dois exemplos próximos e concretos. Analisá-los-ei  de forma comparativa.

O primeiro exemplo é o de um amigo muito próximo e dileto. Esse amigo é músico em Caxias-MA. É líder no seu meio e coordena os seus liderados institucionalmente em nível municipal. Já estive algumas vezes com esse amigo, conversando, em praças públicas. Nessas oportunidades pude verificar como ele é uma pessoa querida, reconhecida popularmente. Não obstante o seu reconhecimento público, já  se candidatou a vereador  três vezes (1988, 1992 e 2012) mas não conseguiu nem ao menos chegar próximo de ser eleito em nenhum dos pleitos. No último certame eleitoral, obteve quase trezentos votos e, afirmou-me, que gastou soma próxima de 10 mil reais. O eleito, menos votado do seu partido, conseguiu mais de 1200 votos. Como cidadão e cientista social não sinto a menor motivação para vis itar o Parlamento caxiense,  mas caso esse amigo fosse vereador, embora com ideologias distintas, teria ânimo para visitá-lo naquela Casa Legislativa.

O segundo exemplo  é o da atual primeira dama do município. Uma “ilustre desconhecida” do povo caxiense até assumir a direção da chamada Secretaria Municipal de Políticas para  as Mulheres (consultas: Lattes e Google). Antes disto, a futura primeira dama, além de obter registro como cirurgiã-dentista em 2008, não dirigiu nada e não se candidatou igualmente a cousa  alguma. Circula entre os servidores da saúde municipal que somente agora, em Caxias, com a eleição do marido, começou a exercer a profissão de odontóloga, em uma nova clínica particular, erguida próximo do nosocômio do ex-prefeito.

Essa mesma Secretaria da Mulher serviu de principal “trincheira” a partir da qual,   a  atual presidente da Câmara Municipal, lutou por sua eleição. Da mesma forma que a vereadora-presidenta, a primeira dama, cercada de um staff que aprendeu a fazer política através do social (mas diferentemente da vereadora-presidente, comenta-se que a primeira-dama-secretária-da-mulher dispõe de cheque assinado “em branco”), vem  movimentando a Secretaria rumo ao(s) Parlamento(s) ou, quiçá, ao Executivo Municipal (Vice?).

A última campanha da Secretaria da Mulher, finalizada dia 25 (11 a 25.10.13), com estrutura e ares de campanha eleitoral, afastou as últimas dúvidas quanto a  primeira dama ser o mais novo “quadro” político disponível da família Coutinho (Vide ACP- MPxPMC, “100 dias com você”). Ou alguém pensa que toda aquela movimentação foi simples integração à campanha internacional “Outubro Rosa”(www.outubrorosa.org.br/historia.htm), importantíssima na luta contra o câncer de mama? Pueril desconhecimento do jogo político caxiense se se  considera que os Coutinhos, fora da Prefeitura, engrossaram o coro dos que acusaram os Marinhos de desviarem  verbas (mais de 1 milhão de reais) do  Hospital do Cânce r de Caxias e, agora, os Marinhos, na “oposição”, acusam os Coutinhos de desviarem dinheiro destinado a criação de um Núcleo de Câncer no Hospital Geral (mais de 700 mil reais).

Do exposto, não interessa muito quem é o autor da frase: “Fora do governo não há solução!”. O que importa mesmo é que caso estas reflexões estejam corretas, ficará mais uma vez demonstrado que os que estão no governo, expresso no comando da máquina governamental, ou seja, no controle dos órgãos públicos, sua funções, seus servidores e, principalmente, seus recursos materiais e financeiros, podem inventar “soluções” para qualquer dificuldade, inclusive elegerem  “ilustres desconhecidos”.

* Francinaldo Morais é professor de História, membro do IHGC e acadêmico de Direito. (Dedico este texto aos petistas, pois ainda que alguns não sejam,  a maioria é golberyniana).

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