Festejar
a entrega de alimentos nas redes sociais expõe a situação de miséria de um povo e o caráter populista da ação |
Para alguns, pareceu um gesto nobre. Para os contratados da Prefeitura, ávidos pela renovação dos seus respectivos contratos, foi algo até divino, mas para os mais experimentados em política, a distribuição de cestas básicas feita pelo prefeito Gentil Neto no apagar das luzes de 2024 não passou de uma nova versão do governo do seu tio, Fábio Gentil, que vez ou outra fazia festas homéricas onde protagonizava um requebrado desengonçado e, de certa forma, entretinha o público seja com vaias ou aplausos.
Gentil Neto disse que a distribuição de cestas básicas era uma forma de comemorar sua vitória, ou melhor, uma nova forma de comemoração, onde o recurso que hipoteticamente seria gasto com uma banda famosa teria um fim humanitário, ou seja, comida para o povo carente.
Fábio Gentil disse em entrevista que seriam mais de 3 mil cestas básicas, sendo que GN falou que seriam mais de 4 mil. Acreditando na versão estipulada pelo novo prefeito, seriam pelo menos 4.001.
Composta de 1kg de açúcar, 2 kg de arroz, 1 pacote de biscoito, 1 pacote de mistura em pó para preparo de bebida láctea, 1kg de feijão, 1 pacote de macarrão, 1 lata de óleo, 1 lata de sardinha, 1 pacote de 500g de flocão de milho e 1 pacote de café Mamoré, que ao se fazer uma avaliação otimista no comércio local, os produtos contidos ali chegam no máximo a R$ 44,00 (quarenta e quatro reais), confiando nas palavras do novo prefeito, as tais cestas teriam custado então R$ 176.044,00 (cento e setenta e seis mil e quarenta e quatro reais).
Gentil Neto não é rico, ainda não é rico. Fábio Gentil não era rico, hoje é, mas nunca foi muito afeito a gastos com distribuição de cestas básicas, o que se estranhou o tamanho da oferta depois de uma campanha eleitoral de custo tão elevado.
No material publicitário afixado nas tais cestas básicas (sim, o evento teve muita publicidade), a boa ação teve a colaboração do governador Carlos Brandão; das deputadas Daniela, Cláudia Coutinho e Amanda Gentil; do deputado Adelmo Soares; da ex-deputada Cleide Coutinho e de Fábio Gentil e de Gentil Neto, sugerindo que tais autoridades dividiram o custo da operação. Caso tenham mesmo rachado a conta, ficou R$ 22.005,5 para cada um, demonstrando que o bolso da turma está folgado e preparado para as eleições 2026.
Como ‘não existe almoço grátis’ (frase constantemente usada para expressar que é impossível conseguir algo sem dar nada em troca), as tais cestas básicas tiveram um alcance midiático estrondoso que, além de aplacar a fome momentânea de milhares de pessoas, serviu para incutir nas suas mentes o nome de quem as patrocinou.
A transformação de entrega de cestas básicas em evento promocional dos políticos que a patrocinam mostra um outro lado de quem dá e de quem as recebe.
Transformar a miséria e a necessidade de um povo em festa política mostram que as dancinhas e o requebrado deram lugar a um outro tipo de populismo, aquele sem um alcance social efetivo, mas com muita exposição nas redes sociais.
Teremos o populismo 2.0.
As próximas horas do novo governo serão de muitos atos com efeito simbólico para serem explorados nas redes sociais.
Serão tempos difíceis.
O novo ciclo só está começando...
É a politica do pão e circo. O antecessor era o palhaço e o seu circo, agora será a gestão do pão que o diabo amassou.