Por Edson
Vidigal, advogado, foi presidente do Superior Tribunal de Justiça e do
Conselho da Justiça Federal.
Não sei o nome pelo qual atende entre os
seus, os da sua praia ou tribo, mas o que sei é que, embora não saiba o seu
nome, já estamos na terceira rodada e agora estou sem saber se eu o venci ou se
ele me venceu.
Os médicos deram para receitar banana porque
descobriram, enfim, que os macacos nunca se deprimem. Estão sempre alegres, bem
dispostos e salientes. A razão de tanta exuberância é o potássio que na banana
está em maior quantidade.
Manhã bem cedo quando vou à bacia de frutas
pegar minha banana noto que uma delas está comida até a metade. Separo-a das
outras e me detenho examinando. Por duas ou três manhãs, a mesma coisa.
Se não foi dente de gente nem de macaco,
dente de que bicho seria? A Iraci, que sabe tudo desses meandros, lança a
suspeita – isso é coisa de rato.
Ora, se rato gosta tanto assim de banana
então ele se aparenta dos macacos, por conseguinte também dos homens, todos
necessitados de doses e mais doses de potássio.
Daí, fico a imaginar querendo encontrar
razões para o fato de ter homem tão parecido com rato e também com macaco e de
ter homem com atitude de rato ou com atitude de macaco.
Se tu reparas bem, o macaco não é larápio.
Ele te surrupia a banana em gestos engraçados, não espera tu dares as costas
para o objeto do desejo dele, não age nas caladas da noite. O macaco é
transparente.
O rato, não. O rato que nem algumas
categorias de homens sem categoria não age às claras, prefere sempre as caladas
da noite para suas práticas deletérias.
Então, a banana que amanhece mordiscada até
quase pela metade na bacia de frutas na cozinha é coisa de rato. Mas que
calhorda!
Se eu continuar leniente ele vai espalhar
out-dor pelas esquinas da ilha, num rasgo de bom mocismo, me agradecendo as
quase vinte bananas que ele comeu pelas beiradas nas madrugadas lá em casa,
enquanto todos dormiam.
Estou sabendo sobre uma senhora Karen Robbins
que mantém uma ONG nos Estados Unidos voltada para a proteção dos ratos, os
quais são tratados com estima e carinho.
Aqui também nesta quase França Equinocial,
incluindo a do Amor, tem pessoas com seus ratinhos de estimação, tratados como
leais companheiros, gordinhos, rechonchudos, alguns até lembrando gorgulho,
aquele bicho que ataca sacas de feijão.
Os ratos, aliás, ajudaram os romanos num
sentido inverso a conquistarem muitos territórios.
Muitos lugares tinham ratos demais, os povos
em meio a tantas doenças não sabiam o que fazer. Àquelas alturas, os romanos já
haviam descoberto o gato como invencível devorador de ratos.
E levavam centenas de milhares de gatos
famintos em suas expedições. Muitas vezes nem precisavam fazer guerra. Era
soltar os gatos atrás dos ratos e os povos, aliviados, se entregavam logo aos
romanos.
Voltando ao rato devorador de bananas aqui de
casa, já estou na terceira rodada e não sei quem venceu a parada.
Na primeira, misturei bifinho da Miúcha com
chumbinho. O danado comeu tudo. Na noite seguinte peguei apara de pizza e fiz
sanduíche de chumbinho. Não amanheceu nada. Sinal de que comeu tudo. Na terceira
eu deixei só caroços de chumbinho espalhados no roteiro dele. Amanheceu tudo do
mesmo jeito. Mas a banana sempre mordiscada.
No reino animal deve ter um ministério
publico para ratos. Não é possível. Deve ter.
É...Doutor, deve ter mesmo. Não tem é nosso reino. E se tem, vive agindo às escondidas, que nem seus famosos ratos.