Minha Figura

Tonhão

4.9.14
Por Edson Vidigal, professor, advogado e ex-ministro do STJ

É ilusório imaginar que doadores de campanhas eleitorais, notadamente os mais endinheirados, se interessam por compromissos programáticos.

Querem saber, primeiro, das chances reais de eleição do candidato e suas ligações e acessos diretos aos futuros ocupantes do poder.

Ninguém quer investir no aperfeiçoamento das instituições democráticas.

Tais patriotas, exceções à regra, querem saber é com quem poderão contar quando perceberem os seus interesses ameaçados e precisarem de quem os acompanhe pelo caminho único que sabem – o das exonerações tributárias ou dos empréstimos a juros de quase nada dos bancos oficiais.

Está passando da hora reler muitos dos contratos de concessões e de permissões pelos quais grandes grupos se apropriaram do patrimônio publico e quanto aos compromissos contratados nada ou quase nada fizeram até aqui. Olhai os trilhos dos trens...

O espirito público hoje tão ausente da maioria dos políticos parece guardar equidistância também das mentes empresariais.

Exceções à parte fazem doações sem nenhum apreço pelo que os candidatos contemplados possam representar em melhoria da qualidade da politica no Brasil. Muitos chegam a destinar vultosas quantias em valores iguais a candidaturas rivais entre si.

No sistema partidário que não permite a formação de líderes porque dominados por camarilhas à sombra da Constituição da República e das leis do País e no financiamento de campanhas estão os imbróglios mais impeditivos à construção democrática.

Como sair dessas? Pela iniciativa popular enfiando goela abaixo desse Congresso as mudanças que, implodindo essas estruturas vigentes e tão viciadas, possam resgatar para o Brasil a legitimidade da representação popular.

Poucos empresários no Brasil cederam às imposições do espirito público dedicando seu tempo à política na crença de que poderiam doar ao País proveitosa contribuição.

Lembro dois nordestinos – Carlos Jereissati, Senador pelo Ceará e José Ermírio de Moraes, Senador por Pernambuco.

Jereissati foi o grande parceiro de Getúlio na afirmação do trabalhismo e de apoio dos empresários à gestão de Jango no Ministério do Trabalho.

Ermírio não só bancou a eleição de Arraes para Governador como, elegendo-se senador pelo PTB do qual seria depois o Presidente nacional, foi Ministro da Agricultura de Jango, inscrevendo no seu legado o Estatuto do Trabalhador Rural.

Quando, em 1986, o Governo de S. Paulo periclitava entre Paulo Maluf e Orestes Quércia, o PTB lançou o Tonhão, empresário bem sucedido, que após cursar na empresa do seu pai.

Com sua verve franca, sem rodeios e seu jeitão desengonçado, Tonhão não queria saber de politicalha nem de politiquice e foi anunciando logo no primeiro dia de campanha – médico vai ter que bater ponto, funcionário público tem que melhorar a produtividade, empresário tem que vender com nota fiscal, ninguém vai atender mal ao povo.

Nas pesquisas qualitativas Tonhão fazia o maior sucesso. Nos sindicatos e empresas, o Quércia chegava e dizia – ele vai acabar com vocês, perseguir médicos e professores, ele é contra funcionário público.

Pediam-lhe Secretarias de Estado inteiras de porteiras fechadas, como se diz hoje. Tonhão pegava de leve e sorrindo – vou sair da minha empresa para deixar você roubar em meu nome?

Perdeu as eleições para o Quércia. Nunca mais quis ser candidato. Antes, em 1976, movido pelo espirito público juntou-se a Gerdau, Mindlin, Setúbal, dentre outros, num Manifesto reclamando a volta da democracia e mudanças na economia do País. O regime militar nadava de braçadas.

Sobre Collor,– um incompetente com sorriso falso. Descobri tarde demais. Dei muito dinheiro para a campanha dele. Não sei como pude acreditar naquele salafrário.

Sobre Lula – um despreparado. Jamais votaria em quem diz nunca ter lido um livro.

O Tonhão da campanha eleitoral foi coisa de marqueteiro. Estou me referindo é a um grande brasileiro – Antônio Ermírio de Moraes, que morreu em S. Paulo na noite de domingo, dia 24 de agosto. Em casa, de insuficiência respiratória. Aos 86 anos.

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